Durante a ditadura militar, muitos brasileiros deixaram o país e seguiram para o exterior. Era o início do exílio. Porém, diferente dos vizinhos latino-americanos, o exílio brasileiro não foi "em massa". Ou seja, não representou um grande fluxo de pessoas saindo do país. O exílio atingiu apenas uma pequena parte da população brasileira, formada, sobretudo, por uma classe média intelectualizada.
Ao lado das prisões e dos assassinatos com motivação política, o exílio teve a função de afastar os opositores do novo regime instalado em 1964. Nem todos, contudo, enquadraram-se nesse caso. Alguns exilados simplesmente resolveram deixar o país quando o presidente João Goulart foi deposto. Foram para o exterior legalmente e, até mesmo, sem uma visão crítica sobre a realidade brasileira.
A grande maioria, porém, saiu do Brasil em razão de suas posições políticas. Houve exilados que deixaram o país trocados por reféns ilustres. Em 1969 e 1970, organizações de esquerda seqüestraram os embaixadores dos Estados Unidos, da Suíça e da Alemanha Ocidental. Em troca de sua libertação, exigiram que presos políticos fossem soltos pela ditadura. No total, os militares libertaram 125 pessoas - todas exiladas para o México, Chile e Argélia.
Leonel Brizola, por exemplo, fui um dos nomes de maior expressão entre os exilados no Uruguai. De lá, organizou o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), reunindo outros exilados e militares de baixa patente (sargentos, cabos e marinheiros) que ainda viviam no Brasil. Quando veio o golpe, muitos deles foram afastados de suas funções. Por isso, engajaram-se na resistência à ditadura. Inclusive pela força das armas.
No final de 1966, o MNR lançou a primeira ofensiva guerrilheira contra o novo regime. Com a ajuda de Cuba, que forneceu dinheiro, armas e treinamentos, 14 militantes da organização se instalaram na Serra do Caparaó, na divisa de Minas Gerais com o Espírito Santo. Queriam organizar uma guerrilha rural contra a ditadura. Mas a polícia acabou descobrindo o plano e prendeu todos os integrantes do MNR deslocados para a região.
Conforme a ditadura militar ia se consolidando, ficava claro que os militares tinham vindo para ficar. Para os exilados, a volta ao Brasil tornou-se uma idéia cada vez mais distante. Foi nesse momento que a luta armada contra a ditadura se intensificou. A repressão, por sua vez, também se consolidou. Assim, muitos militantes de organizações de esquerda que pegaram em armas para lutar contra a ditadura começaram a ser presos.
Vários deles seguiram para o exílio. Porém, não mais em direção ao Uruguai, mas, sim, para o Chile. O país passou a ser o destino principal dos brasileiros. A experiência socialista do governo Salvador Allende atraiu muitos militantes de esquerda. Entretanto, a partir de 1973, com o golpe de estado no Chile, tornou-se inviável a permanência dos brasileiros ali. No Uruguai, onde os militares também tomaram o poder, os brasileiros se viram forçados a fugir novamente. Sobretudo porque as ditaduras latino-americanas tinham se unido para perseguir seus inimigos comuns - na chamada Operação Condor.
Do exterior, muitos ainda tentaram lutar contra a ditadura. Alguns poucos chegaram a voltar ao país, sendo que, desses, a maioria acabou morta ou presa pelo regime. Com o recrudescimento da repressão (que fez da tortura uma política de Estado), os brasileiros que estavam no exílio começaram a denunciar a violação dos direitos humanos cometida no Brasil, engrossando o movimento internacional contra a ditadura militar.
Essa fase do exílio brasileiro coincidiu, internamente, com a derrota que a ditadura impôs aos setores da esquerda que tinham optado pela luta armada. No exterior, os antigos guerrilheiros entraram em contato com outras experiências, renovando suas temáticas e também suas estratégias políticas. A esquerda brasileira mudava parcialmente sua concepção política, aproximando-se do novo cenário que se desenhava no Brasil.
Ao lado das prisões e dos assassinatos com motivação política, o exílio teve a função de afastar os opositores do novo regime instalado em 1964. Nem todos, contudo, enquadraram-se nesse caso. Alguns exilados simplesmente resolveram deixar o país quando o presidente João Goulart foi deposto. Foram para o exterior legalmente e, até mesmo, sem uma visão crítica sobre a realidade brasileira.
A grande maioria, porém, saiu do Brasil em razão de suas posições políticas. Houve exilados que deixaram o país trocados por reféns ilustres. Em 1969 e 1970, organizações de esquerda seqüestraram os embaixadores dos Estados Unidos, da Suíça e da Alemanha Ocidental. Em troca de sua libertação, exigiram que presos políticos fossem soltos pela ditadura. No total, os militares libertaram 125 pessoas - todas exiladas para o México, Chile e Argélia.
O exílio latino-americano
Assim que os militares tomaram o poder, em 1964, muitos brasileiros saíram do país. Nessa primeira fase do exílio, os lugares mais procurados foram o Uruguai e o Chile. Próximo à fronteira com o Brasil, o exílio uruguaio expressou o verdadeiro sentimento dos que haviam deixado o país: a expectativa de que a volta seria breve. Para os primeiros exilados, a ditadura acabaria logo, como prometera o general-presidente Humberto Castello Branco, ou então seria derrubada pelas forças de oposição.Leonel Brizola, por exemplo, fui um dos nomes de maior expressão entre os exilados no Uruguai. De lá, organizou o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), reunindo outros exilados e militares de baixa patente (sargentos, cabos e marinheiros) que ainda viviam no Brasil. Quando veio o golpe, muitos deles foram afastados de suas funções. Por isso, engajaram-se na resistência à ditadura. Inclusive pela força das armas.
No final de 1966, o MNR lançou a primeira ofensiva guerrilheira contra o novo regime. Com a ajuda de Cuba, que forneceu dinheiro, armas e treinamentos, 14 militantes da organização se instalaram na Serra do Caparaó, na divisa de Minas Gerais com o Espírito Santo. Queriam organizar uma guerrilha rural contra a ditadura. Mas a polícia acabou descobrindo o plano e prendeu todos os integrantes do MNR deslocados para a região.
Conforme a ditadura militar ia se consolidando, ficava claro que os militares tinham vindo para ficar. Para os exilados, a volta ao Brasil tornou-se uma idéia cada vez mais distante. Foi nesse momento que a luta armada contra a ditadura se intensificou. A repressão, por sua vez, também se consolidou. Assim, muitos militantes de organizações de esquerda que pegaram em armas para lutar contra a ditadura começaram a ser presos.
Vários deles seguiram para o exílio. Porém, não mais em direção ao Uruguai, mas, sim, para o Chile. O país passou a ser o destino principal dos brasileiros. A experiência socialista do governo Salvador Allende atraiu muitos militantes de esquerda. Entretanto, a partir de 1973, com o golpe de estado no Chile, tornou-se inviável a permanência dos brasileiros ali. No Uruguai, onde os militares também tomaram o poder, os brasileiros se viram forçados a fugir novamente. Sobretudo porque as ditaduras latino-americanas tinham se unido para perseguir seus inimigos comuns - na chamada Operação Condor.
Rumo à Europa
Começou, assim, a busca por novos endereços. O principal destino dos exilados brasileiros foi a França. Paris tornou-se uma espécie de capital do exílio. Alguns brasileiros também se fixaram em outros países da Europa (como Suécia, Inglaterra e Portugal), do Bloco Socialista (União Soviética, em particular) e da América Latina (especialmente Cuba).Do exterior, muitos ainda tentaram lutar contra a ditadura. Alguns poucos chegaram a voltar ao país, sendo que, desses, a maioria acabou morta ou presa pelo regime. Com o recrudescimento da repressão (que fez da tortura uma política de Estado), os brasileiros que estavam no exílio começaram a denunciar a violação dos direitos humanos cometida no Brasil, engrossando o movimento internacional contra a ditadura militar.
Essa fase do exílio brasileiro coincidiu, internamente, com a derrota que a ditadura impôs aos setores da esquerda que tinham optado pela luta armada. No exterior, os antigos guerrilheiros entraram em contato com outras experiências, renovando suas temáticas e também suas estratégias políticas. A esquerda brasileira mudava parcialmente sua concepção política, aproximando-se do novo cenário que se desenhava no Brasil.
Foi assim que a luta armada cedeu lugar à luta democrática. A revolução socialista poderia ser feita através da democracia, e não apenas pela força das armas, acreditavam os exilados. Assim, quando, em 1979, o governo brasileiro aprovou a Anistia, muitos dos que voltaram ao Brasil se integraram aos setores da sociedade que lutavam, desde meados dos anos 1970, pelo fim da ditadura e pelo restabelecimento da democracia.
*Vitor Amorim de Angelo é historiador, mestre e doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos.