Desenvolvimento sustentável

Imagine que você descobriu uma árvore de frutas deliciosas, como uma macieira. Basta tirar uma maçã, que outras duas nascem. Certo dia, outras pessoas aparecem para pegar as frutas também.

Todos resolvem subir na árvore para colher mais. E quebram seus galhos. A árvore quase morre - e pára de dar frutos. Essa história ilustra o que acontece com a natureza nos dias de hoje.

Os seres humanos usam os recursos naturais como se fossem inesgotáveis. Mas os benefícios da natureza, como a água e o solo (de onde se tiram os alimentos) não são infinitos e podem se esgotar, assim como as maçãs da árvore mágica. Muitas pessoas já sofrem com a falta de água e de alimento. O pior é que em lugares como o Oriente Médio, onde a água é considerada o "ouro azul" por ser escassa, ela pode ser motivo de guerra. Mais um, numa região já tão violenta.
 

Lotação quase esgotada

A situação do planeta é crítica e por isso mesmo você já deve ter ouvido falar em desenvolvimento sustentável. É o nome que se dá quando você colhe a maçã, mas respeita a árvore e dá tempo a ela para se refazer e produzir mais frutos outra vez. O mesmo se aplica a todos os outros recursos naturais da Terra: deve-se usá-los com sabedoria, para dar tempo à natureza de se recompor. Caso contrário, eles se esgotam, acabam, desaparecem.

O avanço da ciência e da tecnologia trouxe inúmeros benefícios para o ser humano. A medicina moderna, por exemplo, tornou possível o aumento da expectativa de vida - as pessoas vivem mais tempo devido aos remédios e vacinas que curam doenças. Assim, com menos mortes e mais nascimentos na população humana, o resultado é o aumento exagerado do número de pessoas no planeta.

Para se ter uma idéia, no início da Era Cristã a população mundial contava com cerca de 200 milhões de pessoas - e chegou a 1 bilhão por volta do ano 1800, há apenas 200 anos. Então, nas primeiras décadas do século 20, esse número dobrou. No dia 12 de outubro de 1999, nasceu o bebê que inteirou o número 6 bilhões.

A esse aumento considerável da população dá-se o nome de explosão demográfica. Peter Kostmayer, da ONG "Population Connection", afirmou que a taxa de crescimento da população está, de longe, extrapolando nossa capacidade de oferecer empregos, educação, moradia e cuidados médicos. Além disso, está causando tremendos problemas ambientais no mundo - para o planeta e para seus habitantes.

Atualmente, pelo menos uma em cada cinco pessoas é subnutrida - e uma a cada seis não tem acesso à água potável. Com tanta gente, há necessidade de mais alimento, mais água, mais terra para produzir alimentos. Da mesma maneira que um lindo parque fica imundo depois de um feriado cheio de gente jogando lixo em toda parte, o planeta vive uma superlotação de gente, com o conseqüente aumento da produção de detritos e resíduos. Pior: o sistema econômico e de exploração dos recursos naturais atual não permite que a Terra suporte uma população tão grande.

A agricultura e a criação de animais, segundo diversos ecólogos (cientistas que estudam a ecologia), em breve não serão suficientes para alimentar todas as pessoas. E é preciso lembrar ainda dos recursos alimentares dos oceanos, que são limitados - o mar oferece 100 milhões de toneladas de peixes, sendo que o ser humano retira por ano 97 milhões de toneladas para si (quase tudo!).

Então, o ser humano destrói partes da natureza a cada dia, sem se dar conta de que está acabando com elementos necessários à sua própria sobrevivência. É a detruição da árvore das maçãs.

Economia da natureza

Esses problemas levaram, em 1980, à criação de um novo conceito - o desenvolvimento sustentável. Parece um nome difícil, mas é fácil de entender, não é? Trata-se de um conjunto de atitudes e projetos que têm como objetivo utilizar a natureza sem destruí-la. Dando tempo para ela se refazer.

O desenvolvimento sustentável é como se fosse uma "poupança da natureza". Isto é, retira-se uma certa quantidade de recursos naturais, mas se deixa uma quantia suficiente para "render" - no caso da macieira, por exemplo, se as pessoas tivessem uma idéia de desenvolvimento sustentável, elas esperariam a árvore produzir mais frutos, ao invés de arrancá-los todos com aquela pressa danada.

Além disso, se os mesmos indivíduos deixassem uma maçã ou outra no chão, nasceriam mais macieiras, e portanto, haveria mais frutos para as pessoas. Para completar, seria fundamental que ninguém deixasse lixo no solo em volta da árvore, porque isso iria envenenar a terra e impedir o crescimento de novas plantas.

Desenvolvimento sustentável é muito importante. Se todos fizerem sua parte, será possível viver em condições saudáveis, ao invés sofrer num planeta poluído e esgotado de recursos essenciais para todos os seres vivos - você, inclusive.

 

 

 

Como aliar meio ambiente e economia

O desenvolvimento da ciência e da tecnologia, no século 20, serviu tanto para promover a melhoria da qualidade da vida do ser humano, quanto para ampliar a sua capacidade de autodestruição. Entre as heranças nefastas do último século, encontram-se o desgaste sem precedentes dos recursos naturais, os efeitos lesivos da poluição do ar e das águas, a destruição das matas e da biodiversidade do planeta.

No início da década de 1960, os movimentos ecológicos já advertiam sobre as graves ameaças que estavam impostas à biosfera. As manifestações e discussões naquela década apontavam, também, para a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento baseado no ideal de consumo e crescimento econômico acelerado. Assim, aos poucos, os temas ambientais foram sendo incorporados aos programas de governo das nações, aos partidos políticos e à agenda dos organismos internacionais.
 

Movimentos ambientalistas

As Organizações Não-Governamentais (ONGs) começaram a surgir a partir da década de 1960. O WWF ("World Wildlife Fund"), a primeira ONG ambientalista de espectro mundial, foi criada em 1961. Está voltada para a defesa de espécies ameaçadas de extinção, de áreas virgens e ao apoio a educação ambiental. Em 1971, o Greenpeace - criado para impedir um teste nuclear na costa do Alasca, nos Estados Unidos - passou a ser o movimento ambientalista de maior projeção internacional.

Desse modo, a discussão ambiental ganhou amplitude e adeptos em todo o mundo ao colocar em pauta a questão da própria sobrevivência humana e assinalar a necessidade de mudanças nos nossos valores sociais e culturais, bem como no modelo econômico das nações de um modo geral.

Conferência de Estocolomo

O primeiro grande debate mundial sobre os temas ambientais tem como referência a Conferência de Estocolmo, promovida pela ONU, na Suécia, em 1972 (1ª Conferência Internacional para o Meio Ambiente Humano). Até então, esse foi o maior evento de dimensão internacional dedicado exclusivamente à avaliação das relações sociedade e natureza. O dia 5 de junho, que marcou o início dos trabalhos da Conferência, foi oficializado pela ONU como o "Dia Mundial do Meio Ambiente".

Na década de 1970, o mundo vivia no auge da Guerra fria. Os países socialistas ligados à hoje extinta União Soviética não compareceram ao evento de Estocolmo. Esses países boicotaram a conferência, em solidariedade à Alemanha Oriental, cuja participação foi vetada pela ONU.

Sem a presença dos países socialistas, o principal embate do encontro de Estocolmo ocorreu entre os países desenvolvidos do hemisfério Norte e os países subdesenvolvidos do Sul. Enquanto os países do Norte, de modo geral, defendiam a necessidade de implementar políticas ambientais rigorosas, os países do Sul reclamavam o direito de perseguir o desenvolvimento econômico e investir na industrialização.

O mundo subdesenvolvido não demonstrou nenhum interesse em adotar mecanismos de proteção ambiental que bloqueassem as suas metas de crescimento econômico. Os representantes desses países argumentavam que o crescimento econômico era prioritário e necessário para modificar a condição social precária em que vivia boa parte dos povos do mundo.

Uma conclusão contraditória

Essas divergências levaram a resultados práticos pouco promissores. Para contemplar as diversas posições, a "Declaração de Estocolmo" estabeleceu uma carta de princípios em que os países desenvolvidos concordavam com a necessidade de transferir tecnologia e dar apoio financeiro aos países dispostos a adotarem medidas ambientais corretas. Contudo, em contradição com o próprio princípio e objetivo da conferência, considerava que a conquista do desenvolvimento econômico era uma meta tão prioritária quanto a preservação do meio ambiente.

Nesse sentido, a posição brasileira na Conferência de Estocolmo foi tristemente exemplar, ao declarar que o país abria as suas portas para a instalação das indústrias poluidoras que tanto incomodavam a população dos países do Norte. Deixava clara a idéia de que o Brasil preferia promover o crescimento econômico a qualquer custo a se dedicar a políticas ambientais.

Na verdade, o grande avanço de Estocolmo foi o de sensibilizar a sociedade mundial para os graves problemas ambientais que podiam e ainda podem colocar em risco a sobrevivência da humanidade. A criação do PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - foi um de seus resultados concretos. O PNUMA passou a ser a agência da ONU responsável pela promoção de ações internacionais e nacionais relacionadas à proteção do meio ambiente.

Visões de meio ambiente

Pelo menos três concepções sobre a relação da sociedade humana com o meio ambiente, foram bem estabelecidas nessa primeira grande discussão internacional. Para começar, podemos citar o desenvolvimentismo, que defende o crescimento econômico a qualquer custo e não considera os danos ambientais nem a possibilidade de esgotamento dos recursos naturais. Essa concepção confunde crescimento econômico com desenvolvimento e estimula o consumo crescente de energia e de recursos naturais.

Em um lado totalmente oposto, encontra-se o preservacionismo, amparado na idéia de que -no atual estágio do desenvolvimento da produção - é necessária uma postura radical de preservação ambiental. Essa corrente teve origem nos Estados Unidos, na verdade, ainda no século 19. Ela foi responsável pela criação de importantes parques nacionais destinados à salvação da natureza original, como são os casos do Parque Nacional de Yellowstone (1872), do Sequoia Park (1890) e muitos outros. Em outras palavras, o preservacionismo defende a proteção integral de determinado ecossistema com o objetivo de garantir a sua intocabilidade.

Já o conservacionismo é um meio termo entre as duas correntes anteriores. Admite a exploração dos recursos naturais, de forma racional e eficiente. Conservar significa, portanto, utilizar a natureza, mas garantindo a sua sustentabilidade. Não significa guardar os recursos naturais e sim consumir adequadamente: atender às necessidades do presente, levando em consideração a necessidade do uso desses recursos no futuro. A visão conservacionista tem caracterizado a maioria dos movimentos ambientalistas e tornou-se consenso entre a maioria dos países, sendo o princípio que norteia a política de desenvolvimento sustentável.

Recursos renováveis e não-renováveis

Tanto preservacionistas quanto conservacionistas consideram que a questão ambiental não está restrita aos tipos de recursos utilizados - renováveis ou não-renováveis - e sim aos recursos naturais em geral. Recursos renováveis são aqueles que, uma vez utilizados, podem ser recuperados, como a vegetação, a água, o ar e o solo. Os recursos não-renováveis são aqueles que se esgotam, ou seja, que não podem ser repostos, como os minérios: o petróleo, o carvão, o ferro, o manganês, o alumínio e outros.

De fato, essa classificação encontra limitações, pois a exploração intensa de uma floresta, a utilização de extensas áreas para produção agropecuária ou a poluição de um rio pode levar à destruição irreversível de um ecossistema. É também o caso do ar, cuja qualidade tem sido comprometida com a emissão de gases que alteram a sua composição natural e tem provocado alterações climáticas em todo o planeta. Portanto, apesar de serem classificados como renováveis, alguns recursos não podem ser utilizados de forma inadequada sem uma atitude que vise a sua conservação em longo prazo.

Desenvolvimento sustentável

Em 1973, um ano após a Conferência de Estocolmo foi elaborado o conceito de ecodesenvolvimento, mencionado pela primeira vez por Maurice Strong, Secretário Geral da Estocolmo/72. O ecodesenvolvimento - cujos princípios básicos foram formulados posteriormente por Ignacy Sachs - valoriza as possibilidades de um desenvolvimento capaz de criar um bem estar social, a partir das particularidades e anseios das populações locais. É contra a padronização do modelo de desenvolvimento dos países ricos ocidentais, baseado na sociedade de consumo. Propõe também a necessidade de um modelo de desenvolvimento apoiado na preservação dos recursos naturais.

Em 1983 a ONU criou a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida pela primeira-ministra norueguesa, Gro Harlem Brundtland. Essa comissão realizou uma ampla avaliação dos problemas ambientais relacionadas ao desenvolvimento econômico. Seu trabalho resultou na publicação de um extenso relatório intitulado "Nosso Futuro Comum", publicado em 1987 (Relatório Brundtland). Nele, ficou consolidado o conceito de desenvolvimento sustentável, apoiado em políticas conservacionistas capazes de promover o desenvolvimento, sem a dilapidação dos recursos do planeta. Enfim, um modelo de desenvolvimento que garanta a qualidade de vida hoje, mas que não destrua os recursos necessários às gerações futuras.

Algumas de suas recomendações propunham a redução do uso de matérias-primas e energia, uso de fontes de energia renováveis, limitação do crescimento populacional, combate à fome, preservação dos ecossistemas, industrialização ecologicamente equilibrada, satisfação de necessidades básicas para toda a humanidade, modificação dos valores e padrões da sociedade de consumo e a responsabilidade do Estado na implementação de políticas baseadas na justiça e eqüidade social. A sua viabilização depende da inclusão de políticas ambientais no processo de tomada de decisões econômicas.

O conceito de desenvolvimento sustentável, apoiado numa visão ética indiscutível, comprometida em preservar a natureza para as gerações futuras, tornou-se consensual em quase todo o mundo. No entanto, a sua viabilidade prática ainda precisa ser avaliada, pois é difícil definir até que ponto a exploração econômica é compatível com a manutenção de um ambiente saudável.

 

 

Como surgiu esse conceito?

A idéia de desenvolvimento sustentável surgiu a partir do conceito de ecodesenvolvimento, proposto durante a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em Estolcomo, na Suécia, em 1972.

Segundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas, desenvolvimento sustentável é aquele capaz de suprir as necessidades dos seres humanos da atualidade, sem comprometer a capacidade do planeta para atender as futuras gerações. Portanto, é o desenvolvimento que não esgota os recursos, tornando-os perenemente disponíveis, se possível.

A ONU denominou a década de 1960 como a "Primeira Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento", acreditando que a cooperação internacional proporcionaria um crescimento econômico pela transferência de tecnologia, experiência e fundos monetários, de modo a resolver os problemas dos países mais pobres.
 

Ricos e pobres

Ao mesmo tempo, a questão ambiental, fundamental para qualquer plano de desenvolvimento, começou a ganhar destaque nos meios de comunicação. Na época, vários países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, consideravam inviável incluir grandes programas de conservação ambiental em seus programas nacionais, pois acreditavam que a poluição e a deterioração ambiental eram conseqüências inevitáveis do desenvolvimento industrial.

Essa atitude foi conveniente para os países mais desenvolvidos. Por um lado, isso restringia a implantação de indústrias poluidoras em seus territórios. Por outro, eles tinham para onde transferir suas fábricas: os países menos desenvolvidos, que encorajavam a instalação dessas indústrias, para impulsionar seu próprio desenvolvimento.

Satélites

No final dos anos 1960, a humanidade ganhou um aliado importante para a melhor compreensão da dinâmica terrestre, o que também revelou a importância da criação de um programa de conservação ambiental.

Com as missões espaciais e a implantação de um sistema de satélites para o sensoriamento remoto da Terra, tornou-se possível monitorar integradamente os vários processos atmosféricos e climáticos. Surgia uma nova perspectiva de se ver o planeta.

Em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (Estocolmo), reconheceu-se o relacionamento entre os conceitos de conservação ambiental e desenvolvimento industrial; foram discutidos os efeitos causados pela falta de planejamento na utilização de recursos naturais e se estabeleceram critérios claros de "poluição, pobreza e ecodesenvolvimento".

Harmonia entre economia e meio ambiente

Uma reavaliação do conceito de desenvolvimento orientou a "Terceira Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento" (1980-1990), a partir da qual buscaram-se estratégias de distribuição, visando repartir de modo mais justo os benefícios do eventual crescimento da economia mundial.

A ONU resolveu criar uma comissão para efetuar um estudo dos problemas globais de ambiente e desenvolvimento. Em 1987, essa comissão apresentou o Relatório Brundtland - "Our Commom Future" (Nosso Futuro Comum), no qual se ressaltava o conceito de desenvolvimento sustentável, considerando-o um modelo de desenvolvimento socioeconômico, com justiça social e em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra.

Em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, o conceito foi definitivamente incorporado como um princípio orientador de ações. Foi então elaborada a Agenda 21, que representa um compromisso das nações de agir em cooperação e harmonia na busca do desenvolvimento sustentável.

A Agenda 21 reconhece que os problemas de crescimento demográficos e da pobreza são globais. Para sua solução, devem-se desenvolver programas específicos locais e regionais, porém associados a projetos de meio ambiente e desenvolvimento integrados, com o apoio nacional e internacional.

Os três pilares do desenvolvimento sustentável

A Declaração de Política de 2002 da Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável (Joanesburgo, África do Sul), afirma que ele é construído sobre três pilares interdependentes e que se suportam mutuamente: desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental.

Na prática, se não houver a conscientização e o reconhecimento da importância do desenvolvimento sustentável, sua complexidade e o interrelacionamento de seus pilares com as diversas questões ambientais, a geração presente deixará para trás solos pobres, falta de água, atmosfera poluída, enfim, um planeta todo alterado e sujo.

Para evitar que isso ocorra os estilos de vida das nações ricas e a economia mundial têm de ser reestruturados, visando a preservação do meio ambiente, ainda que questões como essas esbarrem nos interesses de poderosos grupos econômicos.